quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Livro Downloads - Diálogos entre Escola, Museu e Cidade,

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Com o título Diálogos entre Escola, Museu e Cidade, a Casa do Patrimônio (PB), do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), lança o  4º número do Caderno Temático de Educação Patrimonial.

Nesta edição, os artigos apresentam reflexões sobre práticas de Educação Patrimonial por todo o Brasil, que tomam os espaços educativos da escola e do museu como polos a partir dos quais se desenvolvem experiências sensoriais e interpretativas que extrapolam seus limites físicos e sua atuação institucional.

A ampliação desse limite entre o dentro e o fora incorpora novos elementos às práticas educativas e revela como as referências culturais são palpáveis e acessíveis a qualquer um de nós, pois permeiam nosso cotidiano, nossa vizinhança, nossa cidade.
As abordagens apresentadas nos convidam a inovar nos projetos de Educação Patrimonial, perceber o patrimônio de outra forma, aguçar o olhar, e, não satisfeitos, olhar novamente, reinterpretar. 
No espaço convencional da sala de aula, na visita ao museu ou no passeio pela cidade, o desafio que está posto é conseguir uma aproximação entre patrimônio e população, compreendendo que o interesse comum da preservação está muitas vezes contido justamente nas referências mais preciosas e mais familiares, que povoam o bairro, a escola e a cidade.
A versão digital do Caderno Temático pode ser acessado no blog da Casa do Patrimônio da Paraíba: http:\\casadopatrimoniojp.com

Ministra da Igualdade Racial dá início a diálogos ministeriais.


Após rodada de diálogo interno, Nilma Lino Gomes estabelece agenda de conversas com ministérios para alinhamento político
Ministra da Igualdade Racial dá início a diálogos ministeriais
Min. Nilma L. Gomes dialoga com min. do MDA, Patrus Ananias. Foto: P.H. Carvalho/MDA
Com o intuito de investir na transversalidade das políticas de igualdade racial, a ministra da Secretaria de Políticas de Promoção da Igualdade Racial da Presidência da República (SEPPIR/PR), Nilma Lino Gomes, deu início a uma série de reuniões com os ministros e ministras neste mês de janeiro. 
A agenda de conversas foi estabelecida após reuniões com as secretarias e assessorias da SEPPIR no sentido de aprimorar 4 eixos de ação da pasta - ações afirmativas, quilombolas e povos de comunidades tradicionais, juventude e internacionalização.
Até o momento, foram visitados os ministérios da Educação, do Desenvolvimento Agrário, a Secretaria-Geral da Presidência da República e a Secretaria de Direitos Humanos. A proposta, porém, é conversar com todas as pastas do governo, dada a transversalidade da política de promoção da igualdade racial.
Nas visitas, estão sendo discutidos os temas prioritários para a SEPPIR no relacionamento institucional com cada pasta. Na pauta do Ministério da Educação, por exemplo, esteve o monitoramento da Lei de Cotas nas instituições federais de ensino (Lei nº 12.711/2012), bem como a reprodução e disseminação do material desenvolvido no Projeto Indicadores de Qualidade na Educação (Coleção Educação e Relações Raciais: apostando na participação da comunidade escolar), além da qualificação dos formulários do Censo Escolar e incorporação do ID quilombola pelo Instituto Nacional de Estudos e Pesquisas Educacionais Anísio Teixeira (INEP).
Na audiência com o Ministério do Desenvolvimento Agrário, esteve em pauta a Assistência Técnica e Extensão Rural – ATER Quilombola, o fortalecimento e ampliação do Selo Quilombos do Brasil e a Mesa Nacional de Regularização Fundiária Quilombola estiveram na pauta de discussão.
Já no encontro com a Secretaria-Geral da Presidência da República, entre os itens discutidos estão o Plano Juventude Viva, a regulamentação da Convenção 169 da Organização Internacional do Trabalho sobre Povos Indígenas e Tribais, e a inserção da temática de Povos e Comunidades Tradicionais nas pesquisas do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE).
As visitas ministeriais seguem até o mês de março.
Coordenação de Comunicação Social

sábado, 24 de janeiro de 2015

Cacem abre inscrição para o curso de formação de atores. Nota de Utilidade Pública.

22 de janeiro, 2015.

http://www.ma.gov.br/index.php/agencia/noticias/?id=90787
Abertas, até o dia 20 de fevereiro, no Centro de Artes Cênicas do Maranhão (Cacem), as inscrições para o curso de Formação de Atores, em nível técnico, para o primeiro semestre de 2015. 
As matrículas podem ser feitas na secretaria do órgão, no horário das 14h às 18h, na Rua de Santo Antônio, 161 – Centro. O início das aulas será no dia 2 de março.
Para inscrição o interessado deverá apresentar RG ou outro documento com foto e assinatura além do pagamento da taxa no valor de R$15,00 que não será devolvida mesmo em caso de não aprovação no teste seletivo. A inscrição para os menores de 18 anos deve ser feita por pais ou responsáveis. As aulas serão ministradas de segunda a sexta-feira, no horário das 18h30 às 22h.
As matrículas serão realizadas de 23 a 27 de fevereiro, para alunos da casa e nos dias 26 e 27 para os alunos novos aprovados no teste seletivo, quando será paga taxa semestral no valor de R$ 60,00. Para a matrícula dos alunos novos será necessária a apresentação dos documentos com cópias autenticadas da certidão de nascimento, RG e CPF, Certificado de conclusão do Ensino Médio (no caso do aluno estar cursando, apresentar uma declaração escolar) e cópia autenticada do Histórico Escolar.
Dentre os pré-requisitos para o ingresso no curso de Formação de Atores, o candidato deverá ter idade mínima de 17 anos, ter concluído ou estar concluindo o ensino médio, ter disponibilidade de tempo à noite, devido ao horário do curso ser de segunda à sexta-feira, no horário das 18h30 às 22h e aos sábados, quando necessário. A seleção dos candidatos por entrevista, teste de leitura, redação e exercício de improvisação teatral, será nos dias 23 e 24 de fevereiro.
No ano de 2015 o Cacem inicia suas atividades sob nova gestão, com Josimael Caldas, que ressaltou sobre a importância de uma nova dinâmica de atuação política e cultural do Centro, que tem o objetivo de oferecer um ensino profissional de qualidade, garantindo o desenvolvimento integral dos alunos, que serão motivados a criar, participar e desenvolver uma atuação crítica e consciente na sociedade.
Maiores informações entrar em contato por meio do número 3218-9948.

sexta-feira, 9 de janeiro de 2015

Educação será “prioridade das prioridades”, diz Dilma.

Entre Henrique Alves e Renan Calheiros, Dilma Rousseff é aplaudida, após discurso de posse para o segundo mandato, por autoridades que prestigiaram a solenidade no Plenário da Câmara Foto: Waldemir Barreto

A presidente Dilma Rousseff anunciou a educação como prioridade de seu segundo mandato, ao tomar posse ontem no Plenário da Câmara dos Deputados, para mais quatro anos. Em seu primeiro pronunciamento após ser declarada empossada pelo presidente do Congresso, Renan Calheiros, ela informou que o lema do novo governo será “Brasil, pátria educadora”.
— Será a prioridade das prioridades. Só a educação liberta um povo e lhe abre as portas de um futuro próspero — afirmou.
A presidente atribuiu sua reeleição à aprovação popular ao projeto de governo do PT e reafirmou seu compromisso com avanços sociais.
Segundo ela, além da determinação política, os investimentos em educação serão reforçados com recursos de royalties do petróleo.
Em discurso de quase 45 minutos, Dilma destacou avanços nas condições de vida da população, no fortalecimento das instituições e no combate à corrupção.
Confiante na capacidade do país em transpor obstáculos ao desenvolvimento, ela pediu à sociedade paciência, coragem e persistência.
— Ao invés de simplesmente garantir o mínimo necessário, temos agora que lutar para oferecer o máximo possível.
Dilma foi recebida por militantes de todo o país, que lotaram a Esplanada numa tarde quente e ensolarada. Ela chegou às 15h à Catedral Metropolitana, de onde partiu para o Congresso. Sorridente e descontraída, acenou à população durante o trajeto em carro aberto, ao lado da filha, Paula Rousseff Araújo.
Dilma e o vice-presidente Michel Temer foram recebidos na rampa do Congresso por Renan Calheiros e o presidente da Câmara, Henrique Eduardo Alves. No Salão Negro, eram aguardados pelo presidente do Supremo Tribunal Federal, Ricardo Lewandowski, que acompanhou a comitiva ao Plenário. No caminho, Dilma e Temer eram cumprimentados por parlamentares, governadores e demais autoridades que prestigiaram a posse, acompanhada por 70 delegações estrangeiras, com 14 chefes de Estado — entre os quais, Michelle Bachelet (Chile), José Mujica (Uruguai) e Nicolás Maduro (Venezuela) — e 16 vice-chefes, como o vice-presidente dos Estados Unidos, Joe Biden.
Após o Hino Nacional, a presidente e seu vice proferiram o compromisso constitucional: “Prometo manter, defender e cumprir a Constituição, observar as leis, promover o bem geral do povo brasileiro, sustentar a união, a integridade e a independência do Brasil”. Em seguida, assinaram o livro de posse.
Após discursos de Dilma e Renan, os eleitos seguiram para o Palácio do Planalto. A própria presidente colocou a faixa presidencial e foi até o parlatório, de onde reafirmou o compromisso com o projeto do PT.
— Assumo este mandato com uma certeza: nós estamos juntos com a dignidade, de pé, e com a força da imensa fé que temos no povo deste país — concluiu.
Jornal do Senado (Reprodução autorizada mediante citação do Jornal do Senado)

domingo, 4 de janeiro de 2015

Literatura mundial e brasileira perde grandes nomes em 2014.

Brasilia 31.12.2014 - Marcelo Brandão – Repórter da Agência Brasil * Edição: Fábio Massalli


Em 17 de abril, morreu um dos maiores nomes da literatura mundial. O colombiano Gabriel Garcia Márquez, vencedor do Prêmio Nobel de Literatura em 1982, morreu em sua casa, na Cidade do México. Jornalista e escritor, tinha 87 anos e deixou como herança livros como O Amor nos Tempos do CóleraCrônicas de uma Morte Anunciada e Cem Anos de Solidão, sua obra mais aclamada. O ano de 2014 arrancou várias páginas importantes da literatura, páginas que jamais serão substituídas e que não serão esquecidas.Ariano Suassuna, João Ubaldo Ribeiro, Rubem Alves, Manoel de Barros e Gabriel Garcia Márquez, todos eles se foram este ano, um ano implacável para quem gosta de se sentar ao lado da janela, acompanhado de um bom livro.
Gabriel Garcia Marquez
O colombiano Gabriel Garcia Marquez é autor de, entre outros, do clássico Cem Anos de SolidãoDivulgação Prêmio Nobel
“Sonhei que assistia ao meu próprio enterro, a pé, caminhando entre um grupo de amigos vestidos de luto solene, mas num clima de festa”, escreveu Márquez no prólogo de Doze Contos Peregrinos. Sua visão de morte era fria, até certo ponto cruel. “Ao final da cerimônia, quando começaram a ir embora, tentei acompanhá-los, mas um deles me fez ver com uma severidade terminante que, para mim, a festa havia acabado. 'Você não pode ir embora', me disse. Só então compreendi que morrer é não estar nunca mais com os amigos”, concluiu após seu sonho.
No dia 18 de julho, o baiano João Ubaldo Ribeiro morreu em sua casa, no Rio de Janeiro, aos 73 anos. Membro da Academia Brasileira de Letras (ABL), Ribeiro sofreu uma embolia pulmonar. Ele havia recebido, em 2008, o Prêmio Camões, concedido pelos governos de Portugal e do Brasil para autores que contribuem para o enriquecimento da língua portuguesa. 
Em Viva o Povo Brasileiro, Ribeiro revive séculos de história do Brasil e tudo começa com uma frase, que se mostra justa, atemporal e cada vez mais apropriada aos dias de hoje. “O segredo da Verdade é o seguinte: não existem fatos, só existem histórias.” 
“Li recentemente Viva o Povo Brasileiro. É um grande livro, nunca pensei que um livro me segurasse em 700 páginas sem entediar, sem se repetir. É um livro que todos deveriam ler”, disse o poeta cuiabano e radicado em Brasília, Nicolas Behr, à Agência Brasil.
No dia seguinte, o Brasil acordou com a notícia da morte de Rubem Alves, aos 80 anos. Além de escritor e pedagogo, Rubem Alves era poeta, filósofo, cronista, contador de histórias, ensaísta, teólogo, psicanalista, acadêmico e autor de livros para crianças. É considerado uma das principais referências no pensamento sobre educação e tem uma bibliografia com mais de 160 títulos distribuídos em 12 países.
“Muitos são os mosaicos que podem ser feitos com um monte de cacos. […] Coração bonito faz mosaicos e músicas bonitas. Os mosaicos e as sonatas são o retrato de quem os fez. […] Escolhi os cacos de que mais gosto para fazer o meu mosaico, o meu livro de estórias, a minha sonata, o meu altar à beira do abismo”, escreveu Alves em Perguntaram-me se Acredito em Deus.

No dia 23, morria outro imortal. Era a vez de Ariano Suassuna, 87 anos, idealizador do Movimento Armorial e autor de diversas obras, entre elas, Auto da Compadecida Farsa da Boa Preguiça. Poucos autores amavam e difundiam o Brasil e a cultura brasileira como ele.

Nos últimos anos, Suassuna lotava teatros em todo o país com sua aula-espetáculo. Depois de uma hora e meia de apresentação, o sentimento de quem o ouvia era de orgulho de ser brasileiro, de fazer parte de uma cultura tão rica, diversa e criativa. A despedida do criador de personagens como João Grilo e Chicó foi cercado de emoção. Após desfile pelas ruas de Recife, cidade que o escritor paraibano adotou como sua, chegou o momento do adeus.
O enterro de Suassuna foi repleto de amigos, admiradores e familiares. Dois de seus poemas foram lidos e aplaudidos pelas centenas de presentes. Ariano talvez não soubesse, mas esse momento já era professado em sua grande obra, Auto da Compadecida: “A história da Compadecida termina aqui. Para encerrá-la, nada melhor do que o verso com que acaba um dos romances populares em que ela se baseou […]. E se não há quem queira pagar, peço pelo menos uma recompensa que não custa nada e é sempre eficiente: seu aplauso.”
Poeta de versos certeiros, Manoel de Barros encerrou a triste lista de 2014. Morreu aos 97 anos, devido a uma obstrução intestinal, em Campo Grande. Na opinião de Nicolas Behr, Manoel de Barros “sem sair de casa, fez uma revolução na linguagem, na poesia brasileira”.
Conhecido pela linguagem coloquial – a qual chamava de idioleto manoelês archaico – e por buscar inspiração nos temas mais simples e banais, Manoel de Barros dizia ser possível resumir sua trajetória de vida em poucas linhas. “Nasci em Cuiabá, 1916, dezembro. Me criei no Pantanal de Corumbá [MS]. Só dei trabalho e angústias pra meus pais. Morei de mendigo e pária em todos os lugares da Bolívia e do Peru. [...] Publiquei dez livros até hoje. Não acredito em nenhum. Me procurei a vida inteira e não me achei – pelo que fui salvo", escreveu.
Para Behr, todos esses nomes cumpriram missão na Terra. Sua fala não é de lamento ou tragédia. Está mais para um reconhecimento, um agradecimento por tudo que fizeram. “Todos eles tinham em comum o verbo compartilhar. Sentimentos, emoções, criações. Deixaram uma boa obra. Perda seria se não tivessem escrito nada. Tudo que nasce, cresce e um dia morre. A morte é o que nos iguala. Tentar solucionar o insolúvel, esclarecer o drama humano foi isso que eles deixaram. Eles tiveram essa grandeza de compartilhar, não guardaram para si”, disse.
O próprio Manoel de Barros já dizia: “O artista é erro da natureza. Beethoven foi um erro perfeito”. Precisamos de mais erros como os que nos deixaram em 2014.

* colaborou Alex Rodrigues

sábado, 3 de janeiro de 2015

Resenhas - A História de Julien Barnave, o Olúgbesan de Xangô*.


Julien nasceu do ventre de uma escrava africana de Oyó chamada Kikelomo, com um senhor de terras batizado Jacques Barnave. Como mandava o Código Negro, um conjunto de leis que regia a relação entre senhores e escravos, ao nascer o rebento, o pai foi obrigado a alforriar a mãe da criança e se casar com ela. 

O que fizeram, felizes, por vontade mesmo. Julien nasceu livre, então, numa época em que negros e brancos ainda não se odiavam tanto, na ilha de Saint Domingues. A pedido da mãe, ainda jovem, foi mandado para a Europa para estudar, mas nunca largou suas raízes africanas e dominicanas. 

Fazia suas oferendas e cantava para os orixás para a boa colheita e a saúde de todos na sua terra, negros e brancos, como lhe ensinara Kikelomo. Julien tinha boa índole, diziam vizinhos e parentes, mas pouca vontade própria. Torcia por todos, e seguia os mais velhos e as regras como ninguém. Daria um grande advogado, sonhava a mãe. 

E assim foi. Ele voltou da Europa jurista formado, dessa vez por ordem do pai, pronto para advogar, em doses iguais, pelo seu lado branco e seu lado negro. Um dos primeiros de uma geração de mulatos educados, que poderiam mudar aquela terra.


A situação era outra de quando havia partido, no entanto. De um lado, os brancos de sua Saint Domingues agora se ressentiam do sangue negro que disputava suas posses. Tratavam mal e malfalavam os de cor, escravos ou livres, africanos, crioulos ou mulatos. Julien, inclusive. Mas o rapaz, que não era de briga mesmo, não se importava.

Seguia as regras como podia. Um dia, no mercado, Julien viu Kikelomo ser xingada – não por brancos, mas por escravos. Acusavam-na de cultuar os deuses da fartura que faziam os senhores se fortalecerem. Xingaram-na de suja, de traidora. Julien achou a reação ignorante mas não conseguiu defendê-la em público. Era mais forte que ele. A única situação em que o rapaz conseguia se impor era quando tinha as vestes de advogado. Aí sim, ele era convicto, poderoso, cheio de opinião. Nos dias de trabalho mais duro, de casos difíceis, Julien deitava-se na cama com orgulho. “Hoje, fui homem", pensava. 

Até que um dia recebeu uma carta dizendo que não poderia mais advogar. Negros e mulatos não tinham mais direito à profissão. E toda sua hombridade, o que restava dela, foi-se embora. Julien se enrolou na tristeza e, por semanas, pensou em se matar. De que serventia teria ele agora, que não podia mais exercer a própria profissão?

Só não o fez porque uma noite, enquanto caminhava sem rumo pelas vielas de Saint Domingues, cruzou as avenidas principais, onde ficavam os armazéns e as casas dos ricos, até as ruas de terra batida e pequenas casinhas onde moravam os artesãos e a pequena classe trabalhadora que começava a se formar. 

Julien chamava o lugar de bairro burguês, mas como piada (e só para si mesmo, pois não gostava de fazer pouco dos outros em publico). Numa dessas esquinas com pouca luz, uma pequena aglomeração fazia seu barulho. Um preto alto e de ombros largos, cara de senegalês, convocava os de sangue negro a se juntarem contra os franceses.

– Makandal está falando! – chamaram os passantes, sem perceber que Julien não era daquele bairro. Era a primeira vez que o mulato ouvia falar dele.

Com a cabeça e ombros acima dos outros, Makandal falava bonito, com uma voz poderosa, como se estivesse possuído por um trovão. Ele empolgava a pequena multidão ao seu redor e fascinava Julien. Aquela presença, aquele poder. Aquela revolta. E, se Makandal encantava Julien, por algum motivo que ele não entendeu na hora, o advogado também chamou a atenção do revolucionário. 

Do alto da pedra de onde falava, Makandal olhou nos olhos do meio-negro como se o reconhecesse e o chamou para conversar após o comício. Falaram por horas. Depois dias. Meses mais tarde, por ordem do revolucionário, Julien fazia sua cabeça pra Xangô, orixá guerreiro de Oyó, terra de sua mãe.

De repente, sua vida mudou. Julien passou a se sentir forte, poderoso como Makandal. Passou a empunhar sua voz como uma arma, a desafiar quem quer que fosse. Causou tanta confusão que foi obrigado a ir viver escondido entre os maroons – o bando de foragidos que atacavam fazendas e senhores de escravos, em favor da abolição. A Guerra estava a caminho.

Na colônia revolucionária de Makandal, cada um tinha um trabalho. Julien, por sua formação, era o juiz e, às vezes, o executor. Seus companheiros preferiam impor o terror e a paranóia pelo envenenamento, mais adequado à tradição das mulheres, que podiam chegar mais próximas dos senhores de escravos por viverem na casa grande. 

Haviam montado uma extensa rede de contatos que fazia com que qualquer veneno – dos brandos que matam dormindo, aos violentos, que fazem a pessoa secar por dentro e vomitar sangue, chegassem a qualquer casa da ilha. Era só Julien decretar a sentença e... Pronto. Em três dias no máximo, o trabalho estava feito.

Alguns casos, no entanto, mereciam uma justiça mais à vista, mais pública e espetacular. Como aqueles que acendiam pólvora nas feridas dos açoitados, ou os que queimavam com carvão as vergonhas das escravas mal comportadas, e especialmente aqueles que enterravam vivos os fugitivos resgatados, depois de fazê-los cavar a própria cova. Os crimes cruéis eram tratados pessoalmente por Julien, ou, como os foragidos chamavam, Olúgbesan T’Sangó, o Vingador de Xangô. 

O Vingador passou a ser visto com o corpo pintado de vermelho sangue, arrastando seu machado duplo pelas noites adentro, batendo-o nas pedras e esquinas. Um espetáculo criado para assustar os brancos. Embora quando a sentença fosse séria, contudo, Julien não hesitasse em levar a fantasia adiante e cortar um ao meio; e, quando necessário, atear fogo nas suas casas. Num toque de ironia europeia, Julien usava o próprio bagaço da cana dos senhores de engenho para queimar todas as saídas da casa. Os brancos morriam torrados, pretos como os escravos que maltratavam. Na morte, ficavam todos iguais.

Um dia, o Vingador foi chamado para tratar de mais um caso que havia escapado da justiça. Duas escravas haviam sido acusadas de tentar envenenar seus patrões e foram punidas por eles, que as queimaram as pernas e as deixaram trancadas na senzala, pernas se decompondo em vista aberta, presas por coleiras de ferro tão justas que mal as deixavam respirar. Mesmo as cruéis punições previstas no Código Negro não contemplavam tamanha violência.

Horrorizados, 14 escravos aproveitaram a folga de domingo e denunciaram a punição hedionda para as autoridades locais. Depois de muito sofrerem, as escravas faleceram. Mesmo assim, os juízes acabaram absolvendo os senhores de escravos e o feitor, com medo que a escravarada se empolgasse demais com o poder de denunciar os patrões. Doze desses escravos foram presos e açoitados como exemplo. Dois fugiram e foram ter com o Vingador.

Xangô, que olhava tudo de longe e ainda se acostumava com a relação com seus poucos filhos, não gostou nada daquilo, tinha um pressentimento estranho. Tentou convencer Julien a não ir. Mandou recados em sonhos. Trancou ruas e toda sorte de empecilhos. Mas não foi ouvido. Julien T’Sangó, o Olúgbesan, foi até a casa dos fazendeiros. Preparou as portas e janelas com bagaço de cana mas, quando se preparava para atear fogo na primeira delas, recebeu um tiro que lhe acertou em cheio uma das coxas e caiu, se rasgando de dor. Era uma cilada.

Julien morreu queimado numa fogueira clandestina preparada pelos próprios fazendeiros. Desesperado, Xangô tentou quebrar o mastro que o segurava, para que o filho pudesse escapar, mas, no meio do caminho, Iku, o cavaleiro da morte o impediu – Julien já era dele, e não havia o que Xangô pudesse fazer. 

Iku esperou que o corpo de Julien caísse no fogo e, quando o último grito cessou, entrou nas labaredas atrás dele e o resgatou, sem que ninguém o enxergasse. Com a pele ainda borbulhando e apoiado no corpo semi-decomposto de Iku, que não pareceu sequer notar o calor do fogo, Julien olhou para o céu, como se perguntasse por que o pai não o havia salvado. Qualquer outro, Xangô teria enfrentado, mas não Iku.

De todos os filhos de Xangô, de todas as épocas, Julien era um dos seus prediletos. E se todo orixá tem ao menos uma responsabilidade na natureza e outra entre os homens, dizem que foi por causa do amor por Julien, e somente depois de sua morte, que Xangô recebeu a responsabilidade de zelar pela justiça.

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* Trecho do livro Deuses de Dois Mundos, o Livro da Morte, de PJ Pereira, que será lançado no segundo trimestre de 2015.

Sobre Deuses de Dois Mundos, de PJ Pereira: Deuses de Dois Mundos é uma trilogia literária no gênero Realismo Fantástico, inspirada nas lendas dos orixás africanos. A obra foi uma maiores surpresas da literatura brasileira em 2013/14 e entrou algumas vezes na lista de mais vendidos no Brasil (ficção). Os dois primeiros volumes, O Livro do Silêncio e O Livro da Traição, estão nas livrarias de todo o Brasil e nas principais livrarias online. O volume final será lançado em 2015. O Livro do Silêncio acaba de chegar em Portugal.

Sobre o autor: PJ Pereira é escritor e um dos publicitários mais premiados do mundo. Seu filme "The Beauty Inside" (A Beleza Interior) ganhou o primeiro Emmy, o Oscar da TV Americana para um filme passado no Youtube.

Sobre a imagem: O Negro Maroon (às vezes traduzido como o Escravo Desconhecido), estátua de Albert Mangones celebrando os revolucionários da revolução do Haiti.


quinta-feira, 1 de janeiro de 2015

Saiba como registrar o melhor ângulo em fotos do tempo!

Muitas pessoas possuem o hobby de fotografar a natureza e tudo ao seu redor, sejam as flores, os pássaros, as águas e as nuvens. Amantes do tempo, clima e tudo o que envolve a ciência meteorologia são fascinados por fotografar os vários estágios e tipos de uma nuvem, um belo arco-íris após uma chuva, ou ainda cenários mais raros, como geada, neve, tempestades, raios e estragos causados pela força da natureza.Muitas imagens, no entanto, não possuem aquele padrão internacional de fotografia e são descartadas, pois alguns parâmetros não foram atendidos seja pela rapidez do clique do momento ou pelo fotógrafo amador não saber ao certo os tipos.Com a ajuda de fotógrafos profissionais, a MeteoFloripa quis trazer uma edição feita pela De Olho no Tempo onde separou algumas técnicas simples e que nem precisam de câmeras profissionais para resultarem em excelentes imagens do tempo. Veja só:

1° técnica – Sempre que for fotografar algum fenômeno atmosférico dê sempre preferência à posição horizontal da câmera, seja ela de punho ou do celular. A resolução fica melhor e o enquadramento nas telas de computador torna a imagem ainda mais nítida.

2° técnica – Você sabia que existe um tamanho “padrão” para as fotos internacionalmente? Ela deve ter 960 pixels na horizontal e um número inferior na vertical. O normal é 960×720.
Não sabe como enquadrar a fotografia corretamente após seu clique? Procure o programa “Paint” de seu computador e manualmente refaça o tamanho correto ou utilize programas de edição de imagens.

3° técnica – Sempre que for fotografar um ambiente externo, ou seja, em campo, sem obstáculos, mantenha sempre umalinha de horizontepara que o leitor/internauta tenha um ponto de referência. Fotografar as nuvens, principalmente, no “meio” do céu, sem um ponto de referência faz perder o sentido da imagem.

4° técnica – Caso não consiga fotografar em ambiente amplo e o momento exija rapidez no clique, como a captura de um raio ou da aproximação de um temporal, por exemplo, em hipótese alguma, em momento algum fotografe fios de eletricidade das ruas!
As pessoas querem ver o céu, não o emaranhado de fios pendurados no poste de sua rua! Está certo que estamos no Brasil e até para isso, nosso sistema de distribuição de energia elétrica e telefonia é falho!
Fios e postes ficam sempre a frente daquilo que você fotografou e quase sempre, aquela nuvem bonita, escura, logo atrás, perde sua propriedade.
Então, lembre-se, fotografar sobre a rede de energia elétrica, jamais!

5° técnica – Evite fotografar em ambientes e logo após “judiar” a imagem com filtros. Transmita sempre o que o tempo mostra naquele instante, e não como você gostaria de fosse. Filtros demais, seja para escurecer, clarear ou embelezar uma fotografia geram cenas de outro mundo!

6° técnica – Tome muito, mas muito cuidado se você gosta de assinar as imagens. Marcas d’água ditam o autor da imagem, não a imagem propriamente dita! E outra, as pessoas querem ver o conteúdo do momento, não o nome do autor.
Cabe a quem for reproduzir a mesma, seguindo a legislação de mídias, creditar o devido nome a quem fez a imagem.
Esse é o mesmo padrão adotado para jornais e agências de notícias. Não se coloca crédito sobre imagem!

Pronto. Com essas técnicas simples, certamente suas imagens ficarão ainda mais atrativas! Caso queira compartilhar conosco e com o público em geral clique (AQUI) e envie-as. 
** Logo que clicar na escrita "AQUI", você será redirecionado para a FanPage MeteoFloripa e clique em mensagem para enviar sua foto.
** TEXTO ELABORADO PELA DE OLHO NO TEMPO METEOROLOGIA.