terça-feira, 30 de dezembro de 2014

Dilma anuncia Juca Ferreira é o novo ministro da cultura.

A presidenta Dilma Rousseff anunciou nesta terça-feira (30) que o sociólogo Juca Ferreira será o novo ministro da Cultura.
A presidenta agradeceu a dedicação da ministra interina Ana Cristina da Cunha Wanzeler.
A posse do novo ministro será no dia 1º de janeiro.


quinta-feira, 25 de dezembro de 2014

Pesquisador da UnB é o primeiro indígena a defender tese sobre sua própria língua. Um doutor em Linguística, uma história de luta.

Foto - Júlia Seabra/UnB.

Gisele Pimenta - Da Secretaria de Comunicação da UnB.

Perto de completar 52 anos, Joaquim Paulo de Lima Kaxinawá conquistou um título de extrema importância. Tornou-se um doutor em Linguística que, nas orgulhosas palavras do índio nascido em Tarauacá, no Acre, “vai curar as doenças da língua e da cultura”.

Ex-seringueiro, Joaquim começou a ser alfabetizado na década de 1980, quando ele tinha 20 anos, num programa coordenado pela Comissão Pró-Índio do Acre. "Na época, precisávamos de pessoas que soubessem escrever e que dominassem as quatro operações matemáticas. As lideranças locais pediram uma formação escolar para o povo Huni Kuin e eu fui escolhido. Voltei para a aldeia e já comecei a dar aula".
Tempos depois, ele cursou o magistério pelo estado acriano e, nos anos 2000, fez graduação intercultural indígena na Universidade Federal do Mato Grosso do Sul (UFMS).
Entrou para o mestrado na UnB em 2008 e, agora, conclui o doutorado na mesma instituição, com a defesa da pesquisa “Para uma gramática da Língua Hãtxa Kuin”, que coroa a trajetória de Joaquim. O aluno do Programa de Pós-Graduação em Linguística do Instituto de Letras da UnB, é o primeiro indígena a escrever uma tese sobre sua própria língua.
Não foi fácil, são muitos desafios. Sair da comunidade, aprender outra língua, outros costumes e conceitos culturais, ficar longe da família. Mas, vale a pena. O aprendizado dá horizontes para pensarmos em políticas educacionais para os povos indígenas”, conta.

Joaquim acompanhado por seus filhos durante a defesa da tese

“Eu só sei dizer que estou muito feliz e orgulhosa”, sorri Albélia Martins, esposa de Joaquim que foi prestigiar a defesa do marido, acompanhada dos três filhos do casal. O amigo Wary Kamaiurá Sabino, mestrando da UnB, afirma que é gratificante ver um índio pesquisador da própria comunidade. “Trazemos uma história, um conhecimento tradicional pra universidade e a UnB, nos oferece o conhecimento acadêmico”.
Joaquim Maná, como também é conhecido, continuará dando aulas na comunidade. Ele reforça que, ao todo, há onze áreas Huni Kuin no Acre e cinco delas apresentam algum problema em relação ao aprendizado oral da língua Hãtxa Kuin. “Nesses locais, por exemplo, os mais velhos falam a língua e os mais novos já tem dificuldade”, pondera.
Um dos projetos é fortalecer a formação de profissionais que trabalham nas áreas indígenas (professores, agentes de saúde e agentes florestais), contemplando áreas como oralidade, escrita e leitura da língua Hãtxa Kuin, além da formalização de conhecimentos tradicionais que envolvem as histórias, músicas, arte, uso da terra e das plantas medicinais indígenas e o estudo dos fenômenos naturais e da organização social do povo Huni Kuin.
“Discutiremos com a comunidade como está o nosso ensino hoje e traçaremos novas políticas, pensando em conteúdos, carga horária, ações específicas para cada idade e produção de material didático em Hãtxa Kuin”, comenta Maná.
Reportagem especial da Agência Brasil revela que, nos próximos 15 anos, 60 diferentes línguas indígenas podem desaparecer. O número representa 30% do total estimado de idiomas falados por diversas etnias no Brasil.

Ana Suelly Cabral, coordenadora do Lali fala sobre a importância da tese

Para Ana Suelly Cabral, coordenadora do Laboratório de Línguas e Literaturas Indígenas da UnB e orientadora da tese de doutorado de Joaquim, esta pesquisa é fundamental para a preservação das culturas indígenas.
“Documentar as línguas e investir na formação de linguistas não índios são medidas importantes, mas a maior política, a meu ver, é formar índios especialistas, comprometidos com a sua realidade, com a sua história e que vão voltar para a comunidade e defender a continuidade das suas línguas, fundamentais para a identidade de um povo. São eles que não vão deixar que suas línguas morram”, ressalta.
A professora também destaca que a formação de indígenas pela UnB é fruto da política de que é possível se ter inclusão social com dignidade. “Até agora, o Programa de Pós-Graduação em Linguística do Instituto de Letras da UnB tem oito mestres e dois doutores índios e, até 2016, outros três devem receber o título de doutor”, aponta Ana Suelly.

pós-2014 - A Militância o PT e a História...

Pelo jeito, esse será um dos debates mais importantes nas próximas semanas. Ou pelo menos, importante para este blog, apaixonado pelo debate e pela democracia.

Depois de uma eleição desgastante, temos um início de governo ainda mais sofrido.

Mais tarde, darei meus pitacos sobre isso.

Apenas adianto agora que o núcleo de força da democracia jamais estará no governo ou nos partidos, mas na capacidade criativa da sociedade.

Entre o governo, o partido, o Estado, a mídia, que são máquinas, e um indivíduo, um ser humano complexo e sensível: eu sempre escolho o indivíduo.

Por isso, me posiciono ao lado da Isabelle Truda, minha amiga na vida real, citada na polêmica levantada pelo blog Diario do Centro do Mundo, em texto reproduzido abaixo.

Só que não posso me dar ao luxo de abandonar nada. Sou um blogueiro e preciso continuar trabalhando, enfrentando os dilemas cada vez mais difíceis da política e da vida.

Quero continuar acreditando no meu país, no meu povo, e na força da história.

Pode parecer proselitismo, e talvez seja mesmo, mas quem estuda um pouco de história, sabe que a humanidade já enfrentou, e venceu, coisas infinitamente mais terríveis do que uma Katia Abreu no ministério.

Independente dos erros do governo, das arbitrariedades da mídia, das injustiças do Estado, do pragmatismo às vezes obtuso dos partidos, continuaremos aqui, lutando pacientemente na planície.

Nossa luta prosseguirá como sempre foi: fundamentada na pesquisa, no pensamento, no debate, na crítica aos donos do poder, na crítica a nós mesmos, no contraponto às truculências da imprensa familiar.

E lutando sempre de maneira democrática e pacífica.

Querida Isabelle, continuaremos na resistência democrática, sempre. A seu lado e ao lado de todos os militantes que lutam por um país melhor.

Os governos, os partidos, a mídia, nada é maior do que o espírito do tempo, o zeitgeist, que a gente guarda em nosso coração, em nosso cérebro, em nossas mãos.

Este amor pela justiça, que a gente viu nos olhos aflitos e emocionados da militância que comemorou a vitória de Dilma Rousseff, não se extingue jamais.

É uma militância sofrida, vilipendiada pela mídia, por um lado, que a chama de “robôs”, e tratada com indiferença pelos capas pretas dos partidos e autoridades de governo, por outro, embriagados, como sempre, pela loucura do poder.

No entanto, quem duvidará que é nessa militância que reside o último bastião da resistência democrática?

De onde mais virá uma renovação moral da política brasileira senão desta militância, que segue acreditando, firmemente, em políticas de combate à desigualdade, e em reformas que democratizem a cidade, a terra, a educação, a saúde e a cultura, promovendo a felicidade para todo um povo?

Eu ia encerrar minha opinião com uma frase que sempre foi o meu lema, desde as priscas eras da faculdade, durante o pesadelo neoliberal, quando eu editava, pagando do próprio bolso, um tablóide chamado Arte & Política.

A frase é: “A única luta que se perde é a que se abandona!”

Mas lembrei de uma outra, ainda mais profunda, porque nos obriga a considerar a mais importante virtude do momento democrático que vivemos no Brasil.

A frase é do chinês Sun Tsu, em seu clássico A Arte da Guerra:

“Só a paz é revolucionária”.

Feliz Natal para todos!

*
A militância perdeu a paciência com o PT?
Por Paulo Nogueira, no Diario do Centro do Mundo.

Vejo uma mensagem de Isabelle Truda no Facebook. O conteúdo resume o que se passa numa grande parte da chamada “Onda Vermelha”, a militância do PT, depois do anúncio dos 13 novos ministros de Dilma, nesta terça. Isabelle é uma jovem de 33 anos que mora em Niteroi. Seu texto, abaixo.

“Também estou me despedindo do PT".

Entendo a governabilidade, entendo que às vezes é preciso dar dois passos atrás para dar um pra frente… Caso a Dilma indicasse a Katia Abreu por pressão de sua base aliada, eu até entenderia, mas não. A Katia Abreu não faz parte da real politik. Foi uma escolha pessoal da Dilma e o PMDB, que não a queria, acatou.

Sem contar Cid Gomes, que chegou a afirmar que professores não deveriam trabalhar por salário, mas por amor. Será que o Cid Gomes conseguiria passar uns meses sem seu salário e fizesse política por amor também? Acho que não.

O PT deveria valorizar o que tem de mais precioso, que é a sua militância. Fiz grandes amigos e espero levá-los para sempre em minha vida.

Em breve formalizarei meu pedido de desfiliação e vou petralhar em outras bandas. Foi bom enquanto durou. Beijos, abraços e boas festas a todos!”

O “também” não era gratuito. Outras pessoas tinham postado a mesma coisa no Facebook. O desabafo de Isabelle gerou um debate intenso. Li os comentários, por curiosidade intelectual.

Um líder petista, Valter Pomar, tentou convencer Isabelle a reconsiderar. A melhor opção, segundo Pomar, é tentar mudar o PT “dentro dele”.

Isabelle não pareceu se comover com a argumentação de Pomar. Alguém colocou uma provocação: em breve, Lula dirá que o PT tinha a melhor militância do mundo.

Claro que os decepcionados de agora podem reconsiderar as coisas depois do primeiro impacto negativo. Mas alguma coisa parece estar acontecendo entre militantes do PT como Isabelle. Ao menos, entre os mais jovens. Um limite talvez tenha sido rompido, ou a paciência se tenha esgotado, ou o crédito se tenha consumido.

Não que seja uma epidemia de inconformismo. Principalmente entre os petistas mais velhos, ainda vigora uma grande aceitação pelos desígnios do governo. O blogueiro Eduardo Guimarães é um destes casos. Guimarães defendeu tenazmente no Twitter o governo de Dilma.

E bateu no resto. “Se a esquerda quer governo puro, só de esquerda, tem que parar de fazer merdas como as Jornadas Patetas de junho, que fortaleceram a direita”, escreveu ele.

Luciana Genro também apanhou. “Durante a campanha, Luciana Genro atacou religiões em um país em que 90% do povo é religioso. Enquanto a esquerda fizer estas merdas, será fraca.”

Não me lembro de ataque nenhum de Luciana Genro às religiões. Recordo apenas o momento em que ela pediu licença ao Pastor Everaldo para chamá-lo de Everaldo, mas não é isto o que está em discussão.

Guimarães parecia nervoso. “Alguém disse que apoio Dilma incondicionalmente. Puta cretinice. Apoio racionalmente. Votei nela faz dois meses e querem que já ataque. Bah!”

As reações opostas de Isabelle Truda e Eduardo Guimarães, ela jovem e ele veterano, podem ser icônicas: a juventude é menos paciente e menos disposta a suportar tudo em nome da “governabilidade”.

É ainda cedo para formular previsões acabadas, mas é possível que 2014 reforce algo que se manifestou nas “Jornadas Patetas” de junho de 2013: a perda do poder de atração do PT entre os jovens de esquerda.

Nos protestos de junho, foi dito chega ao sistema político tal como ele é, o PT incluído. O PT descobriu, ali, que não comandava as ruas.

Dilma só não perdeu a eleição, em 2014, porque os descontentes entenderam que a opção Aécio era muito pior. Mas ao ver um ministério que poderia ser o de Aécio muitos insatisfeitos se lembraram de tudo que os tinha levado a desiludir-se com o PT.

Concretamente, hoje o PT é um partido de centro. Com boa vontade, centro esquerda. O PSDB também se deslocou da área que ocupava, e hoje pertence à direita, ou centro direita. Há, portanto, um espaço na esquerda, claramente. 

Na Espanha, surgiu o Podemos, um partido novo que promete revigorar as causas clássicas da esquerda. E no Brasil, há chances de surgir um Podemos? Ou melhor: já existe a raiz do Podemos, o PSOL?

Neste momento, final de dezembro, o PSOL está longe de ser o Podemos. Não entusiasma as multidões: seu fascínio é circunscrito a um grupo pequeno, como se viu na votação de Luciana Genro.

Mas este grupo pode crescer – desde que o PSOL consiga mostrar aos desiludidos que é o endereço certo para eles.

Para tanto, o PSOL teria que amadurecer politicamente. Se o PT se deixou tomar por um pragmatismo exacerbado, o PSOL parece dominado por um idealismo ingênuo e, em certos momentos, infantil.

Aristóteles dizia que a virtude está no meio, e talvez esta seja uma boa divisa para o PSOL. Vai ser fascinante observar, nos próximos meses, os movimentos dentro da esquerda brasileira.

Até onde irá o desgostos de jovens petistas como Isabelle Truda? Para onde eles levarão sua militância política? O PT conseguirá estancar o processo de desgaste que parece se alastrar em sua ala mais jovem e mais progressista?

Dezembro de 2014, com os “13 de Dilma”, traz todas as perguntas acima. Será divertido observar, nos próximos meses, as respostas a elas.

(Acompanhe as publicações do DCM no Facebook. Curta aqui).

domingo, 14 de dezembro de 2014

Rio de Janeiro - Projeto incentiva leitura, troca de livros e ocupação do espaço urbano.

Vitor Abdala* - Repórter da Agência Brasil Edição: Marcos Chagas.
Um projeto para estimular a leitura e ao mesmo tempo ocupar os espaços públicos é promovido hoje (14), na Lagoa Rodrigo de Freitas, zona sul da cidade do Rio de Janeiro. O Livre.Ria, que está em sua segunda edição, promove a doação e a troca de livros, além do conto de histórias.

“O Livre.Ria é uma biblioteca colaborativa e itinerante, que leva a cultura e ocupação de espaços públicos. 
As pessoas participam do projeto doando dois livros e levando um da nossa prateleira. 
Mas, mesmo quem não tiver livros pode participar da nossa programação”, conta a idealizadora do projeto, Barbara Soledade.
O projeto é realizado no Parque dos Patins, na Lagoa, até as 17h. Pela manhã, pais e crianças aproveitaram a oportunidade de colocar a leitura em dia, como foi o caso do pequeno Bruno de Assis, 7 anos. “Ainda tem um monte de coisa que eu vou olhar, mas o livro que eu mais gostei até agora foi o Super Popeye. Hoje eu não trouxe nenhum livro para trocar, mas um dia vou trazer”, disse o pequeno leitor.
Para a contadora de histórias Taiane Leal, eventos como esse são uma forma lúdica de estimular a leitura. “É um evento ao ar livre, em que todos podem participar de forma democrática. Há a troca de livros, o encontro e a interação”, afirma.
O projeto Livre.Ria é feito pela agência de marketing Diálogo Urbano e teve sua primeira edição em agosto deste ano. A proposta é fazer o evento de 15 em 15 dias em vários pontos da cidade.

*Colaborou Nanna Pôssa, repórter do Radiojornalismo.

quinta-feira, 11 de dezembro de 2014

Jovem guajajara diz que língua nativa é forma de manter identidade.


Rio de Janeiro - A jovem Zahy Guajajara acredita que manter a língua nativa é uma forma de voltar às raízes e afirmar identidade
Rio de Janeiro - A jovem Zahy Guajajara acredita que manter a língua nativa é uma forma de voltar às raízes e afirmar identidadeTânia Rêgo/Agência Brasil
























A jovem Zahy atende o telefone celular e começa a falar com o pai, que vive a centenas de quilômetros de distância, no Maranhão. A conversa flui em um português perfeito até que ela pede para falar com a mãe. De uma hora para outra, a fala da jovem, moradora de um conjunto habitacional no centro do Rio, torna-se incompreensível para o repórter.

Naquele momento, a moça volta a suas raízes e usa palavras que aprendeu cerca de duas décadas atrás, quando ainda morava em uma aldeia indígena na Região Nordeste. Zahy é cabocla, como ela mesma se descreve, filha de homem branco com mulher guajajara. Suas primeiras palavras foram no idioma falado por sua mãe.

Até os 8 anos de idade, Zahy não falava nem entendia o português, apenas o guajajara, idioma da família linguística tupi-guarani. “Meu pai não é índio e foi morar na aldeia. Então, até os 8 anos, ele tinha uma grande dificuldade de falar comigo. Ele só falava português comigo, mas, como cresci naquela aldeia e não falava português, eu não falava com ele”, conta Zahy.

E assim também funcionava com suas irmãs por parte de pai. Elas são filhas do primeiro casamento de seu pai e falavam apenas o português. Por decisão da família, Zahy mudou-se aos 8 anos para a cidade de Barra do Corda com a mãe e três de seus irmãos do primeiro casamento da mãe.

Rio de Janeiro - A jovem Zahy escreve em sua língua materna, o guajajara
Rio de Janeiro - A jovem Zahy escreve em sua língua materna, o guajajaraTânia Rêgo/Agência Brasil
“Só aprendi português quando fui para a cidade e comecei a estudar. No início, eu tinha bastante dificuldade na escola e chorava por causa disso. Tinha essa dificuldade de não entender.

Mas depois aprendi muito rápido. Aconteceu o contrário de antes, quando estava na aldeia e só meu pai falava o português. Na cidade, só eu, minha mãe e meus irmãos falavam [guajajara]”, conta.

Em 2010, Zahy saiu do Maranhão e veio para o Rio de Janeiro. Dentro da segunda maior metrópole brasileira, em meio a milhões de pessoas que só se comunicam em português, a jovem tem poucas oportunidades de usar seu idioma.

“Aproveito [para usar o guajajara] quando falo com minha mãe pelo telefone. Também tenho uma sobrinha e um primo que moram aqui do lado. A gente conversa bastante. Às vezes a gente está no meio de outras pessoas, falando português, e começamos a falar em tupi-guarani [como ela se refere ao idioma guajajara]. É automático.”

Ela conta que, apesar da vida na cidade, ainda se expressa melhor em guajajara do que em português. “A filha da minha sobrinha já fala português desde pequena. Mas também fala o tupi-guarani. Então, ela fala bem os dois idiomas.”
Viver em uma metrópole, no entanto, tem seu preço. 

Palavras guajajaras que só fazem sentido no contexto cultural da aldeia acabam sendo esquecidas. “Tem algumas palavras que a gente não fala por falta de necessidade de falar. São coisas e situações que ocorrem na aldeia, mas que não existem na cidade. Então são palavras que a gente deixa de usar. Às vezes, eu volto para a aldeia, ouço aquela palavra e penso, 'há quanto tempo não escuto essa palavra'”.

Para Zahy, que significa lua em guajajara, a língua é o aspecto mais importante de sua cultura e mantê-la viva é uma forma de autoafirmação da identidade indígena. “Não basta você ter um olho puxado, um cabelo liso e conhecer sua cultura. A língua é uma espécie de autoafirmação. As línguas estão sendo extintas e os índios estão sentindo cada vez mais a necessidade de querer lutar para não acabar a língua. A língua é a parte mais importante da nossa cultura.”

Vitor Abdala - Repórter da Agência Brasil Edição: Lílian Beraldo.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Os principais ministérios: Cultura.

"Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal", escreve Renato Janine Ribeiro, professor titular de ética e filosofia política na Universidade de São Paulo, em artigo publicado pelo jornal Valor, 01-12-2014.
O professor de Filosofia lembra que "em abril de 1994, quando Rubens Ricupero deixou o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal para assumir a Fazenda, Antonio Callado lamentou o que ele, só ele, chamou de rebaixamento: Ricupero deixava uma pasta que portava o futuro do mundo, para cuidar de algo sem a mesma relevância estratégica".
Eis o artigo.
Qualquer um sabe responder quais são os principais ministérios do governo federal - aliás, de qualquer governo no mundo atual. São os da área econômica. Só que não.
Os ministérios que definem o futuro de um país, que deverão ser decisivos nos próximos anos, e em poucas décadas serão reconhecidos como os principais, são três: CulturaAtividade Física (como eu chamaria a atual pasta dos Esportes) e Meio Ambiente.
Essa tese parece tão insensata que precisa ser justificada. Começo pela Cultura; nas próximas colunas falarei das outras duas áreas. Mas um artigo de Antonio Callado pode ilustrar esta questão inteira: em abril de 1994, quando Rubens Ricupero deixou o Ministério do Meio Ambiente e da Amazônia Legal para assumir a Fazenda, Callado lamentou o que ele, só ele, chamou de rebaixamento: Ricupero deixava uma pasta que portava o futuro do mundo, para cuidar de algo sem a mesma relevância estratégica. É nesta linha que vamos argumentar.
É claro que a economia é decisiva para um país, um governo. Mas ela geralmente trata de meios, mais que de fins. O próprio nome de "infraestrutura", usado para agrupar algumas de suas pastas, já indica isso: infra, não super. O solo que pisamos, não o espaço entre zero e dois metros de altura em que nos movemos. Temos também ministérios para lidar com nossos déficits sociais, como saúdedireitos humanosigualdade das mulheres e dos negros. Um dia que não deve demorar muito, a igualdade de direitos estará alcançada. Mas, desde já, há setores da administração que devem apontar fins - não de forma autoritária, vertical, mas fazendo a riqueza criativa da sociedade impactar a administração.
A cultura tem a ver com a educação. As duas pressupõem que o ser humano não nasce pronto, mas é continuamente construído pela descoberta dos segredos do mundo e pela invenção do novo. Na educação como na cultura, não há limite: sempre se pode descobrir ou inventar mais. Nada é tão crucial quanto elas para uma sociedade em mudança rápida, como a nossa.
educação e a cultura, nas suas várias formas, fazem crescer a liberdade das pessoas. A cultura, já afirmei aqui, é a educação fora de ordem, livre e bagunçada. Para cursos, há currículos. Para a cultura, não. Um curso sobre a abolição da escravatura é educação, o filme "Lincoln" é cultura. Cada vez mais, a educação deverá se culturalizar: um, deixando de seguir currículos rígidos; dois, tornando-se prazerosa; três, criativa.
Cultura deixará de ser o sobrinho menor da Educação. O próprio caráter imprevisível da ação cultural e a dificuldade de planejá-la fazem dela um dos modelos para o que deve ser a educação numa sociedade criativa. Deve-se conservar na educação um currículo norteador, que leve da infância à idade adulta. Mas para entender o mundo que hoje desponta é bom ter claro o seguinte: a educação não termina no último dia do ensino profissional ou do curso superior - nem nunca.
Alguns diplomas, como o de médico, até poderão ser concedidos com exigência de atualização, a cada tantos anos. Essa atualização será dada por cursos avaliados e fará parte da área da Educação. Mas além das atualizações obrigatórias, previstas em lei, será necessário - e demandado - um crescente leque de cursos abertos, sem definição profissional, que aumentarão incrivelmente a qualidade da vida dos alunos. 
Já temos iniciativas neste sentido, inclusive uma empresarial (a Casa do Saber), que têm dado certo. Enfatizo: esses cursos serão mais culturais, não estritamente educacionais. Para cada curso de atualização em genoma para profissionais de saúde, haverá dezenas sobre filmes de conflitos entre pais e filhos, de aprendizado com religiões distantes, de arte em videogames, destinados a cidadãos em geral, de qualquer profissão - e a lista não acaba.
A cultura é indutora de liberdade. Romances, filmes e mesmo novelas nos abrem para experiências com as quais, no mundinho em que cada um nasceu e cresce, nunca pudemos sonhar. (É inquietante como estamos voltando a viver em guetos; a própria dificuldade de tantos aceitarem que houve gente que votou diferente deles, na recente eleição, é sinal desse fechamento de cada grupo sobre si - o que pode limitar a capacidade de cada um se enriquecer com a compreensão do outro, do diferente).
Quem cresceu num meio limitado pode descobrir que o sentido de sua vida é a fotografia (como o jovem favelado que é o narrador do filme "Cidade de Deus"): um artista se revela. Ou um menino sensível, alvo de "bullying" na escola, descobre que é homossexual e que não está sozinho no mundo: um ser humano se liberta da ignorância que o prendia. Assim, a cultura aumenta seu próprio contingente - com a descoberta de novos artistas - mas, acima de tudo, amplia a liberdade humana.
Hoje, pela primeira vez na história mundial, cada um de nós pode efetuar a sintonia mais fina possível de sua vocação. Antigamente, cada pessoa vivia num pacote identitário: por exemplo, homem branco abonado, casado, filhos, advogado ou médico ou engenheiro. 
Tudo isso vinha junto. Hoje, as possibilidades se ampliaram muitíssimo. Há milhares de profissões. No limite, cada um cria a sua Profissão, emprego, orientação sexual, estado civil, crenças políticas e religiosas, tudo isso se combina como um arco-íris felizmente enlouquecido. 
Ninguém é mais obrigado a se moldar a um pacote. Mas isso não é fácil, exige uma interminável descoberta de si e, por que não dizer, coragem pessoal. 
A cultura ajuda aqui, porque nenhum setor da aventura humana nos capacita tanto para, cada um de nós, descobrir sua diversidade única.