Reis
do Agronegócio
(música de Chico César,
letra de Carlos Rennó)
Ó donos do agrobiz, ó reis
do agronegócio,
Ó produtores de alimento
com veneno,
Vocês que aumentam todo
ano sua posse,
E que poluem cada palmo de
terreno,
E que possuem cada qual um
latifúndio,
E que destratam e destroem
o ambiente,
De cada mente de vocês
olhei no fundo
E vi o quanto cada um, no
fundo, mente.
Vocês desterram povaréus
ao léu que erram,
E não empregam tanta gente
como pregam.
Vocês não matam nem a fome
que há na Terra,
Nem alimentam tanto a
gente como alegam.
É o pequeno produtor que
nos provê e os Seus deputados não protegem, como
dizem: Outra mentira de vocês,
Pinóquios véios.
Vocês já viram como tá o
seu nariz, hem?
Vocês me dizem que o Brasil
não desenvolve Sem o agrebiz feroz, desenvolvimentista.
Mas até hoje na verdade
nunca houve um desenvolvimento tão destrutivista.
É o que diz aquele que
vocês não ouvem, o cientista, essa voz, a da ciência.
Tampouco a voz da
consciência os comove. Vocês só ouvem algo por conveniência.
Para vocês, que emitem
montes de dióxido,
Para vocês, que têm um
gênio neurastênico,
Pobre tem mais é que comer
com agrotóxico,
Povo tem mais é que comer,
se tem transgênico.
É o que acha, é o que
disse um certo dia Miss Motosserrainha do Desmatamento.
Já o que acho é que vocês
é que deviam Diariamente só comer seu “alimento”.
Vocês se elegem e
legislam, feito cínicos, Em causa própria ou de empresa coligada:
O frigo, a múlti de
transgene e agentes químicos, Que bancam cada deputado da bancada.
Té comunista cai no lobby
antiecológico Do ruralista cujo clã é um grande clube.
Inclui até quem é racista
e homofóbico.
Vocês abafam mas tá tudo
no YouTube.
Vocês que enxotam o que
luta por justiça;
Vocês que oprimem quem
produz e que preserva;
Vocês que pilham, assediam
e cobiçam A terra indígena, o quilombo e a reserva;
Vocês que podam e que
fodem e que ferram Quem represente pela frente uma barreira,
Seja o posseiro, o
seringueiro ou o sem-terra, O extrativista, o ambientalista ou a freira;
Vocês que criam, matam
cruelmente bois, Cujas carcaças formam um enorme lixo;
Vocês que exterminam
peixes, caracóis, Sapos e pássaros e abelhas do seu nicho;
E que rebaixam planta,
bicho e outros entes,
E acham pobre, preto e
índio “tudo” chucro:
Por que dispensam tal
desprezo a um vivente?
Por que só prezam e só
pensam no seu lucro?
Eu vejo a liberdade dada
aos que se põem Além da lei, na lista do trabalho escravo,
E a anistia concedida aos
que destroem O verde, a vida, sem morrer com um centavo.
Com dor eu vejo cenas de
horror tão fortes,
Tal como eu vejo com amor
a fonte linda –
E além do monte o
pôr-do-sol porque por sorte Vocês não destruíram o horizonte...
Ainda. Seu avião derrama a
chuva de veneno Na plantação e causa a náusea violenta
E a intoxicação “ne”
adultos e pequenos – Na mãe que contamina o filho que amamenta.
Provoca aborto e suicídio
o inseticida, Mas na mansão o fato não sensibiliza.
Vocês já não ´tão nem aí
co´aquelas vidas. Vejam como é que o Ogrobiz desumaniza...:
Desmata Minas, a Amazônia,
Mato Grosso...;
Infecta solo, rio, ar,
lençol freático; Consome, mais do que qualquer outro negócio,
Um quatrilhão de litros
d´água, o que é dramático.
Por tanto mal, do qual
vocês não se redimem;
Por tal excesso que só
leva à escassez –
Por essa seca, essa crise,
esse crime, Não há maiores responsáveis que vocês.
Eu vejo o campo de vocês
ficar infértil, Num tempo um tanto longe ainda, mas não muito;
E eu vejo a terra de vocês
restar estéril, Num tempo cada vez mais perto,
e lhes pergunto: O que
será que os seus filhos acharão de Vocês diante de um legado tão nefasto,
Vocês que fazem das
fazendas hoje um grande Deserto verde só de soja, cana ou pasto?
Pelos milhares que ontem
foram e amanhã ser- Ão mortos pelo grão-negócio de vocês;
Pelos milhares dessas
vítimas de câncer, De fome e sede, e fogo e bala, e de AVCs;
Saibam vocês, que ganham
“cum” negócio desse Muitos milhões,
enquanto perdem sua alma,
Que a mim não faria falta
se vocês morressem;
Saibam que não me causaria
nenhum trauma;
Que a mim não faria falta se vocês morressem;
Talvez assim a terra
encontrasse um pouco de calma;
Ó donos do agrobiz,
ó reis do agronegócio.
Nenhum comentário:
Postar um comentário