segunda-feira, 26 de maio de 2014

Roraima - Comunidades indígenas fazem pacto para eleger deputado.

Índigenas concentram estratégia política em Roraima e caciques decidiram, pela primeira vez na história, unificar nove etnias para conquistar uma vaga na Câmara.

Com baixíssima representação no Congresso, as minorias estão se rebelando. 

O grito mais rotundo está partindo dos índios, minoria das minorias, segmento sem nenhum representante eleito e que, ainda assim, numa curiosa contradição, inspirou a criação da Frente Parlamentar de Defesa dos Povos Indígenas, bombardeada por todos os lados pela bancada ruralista, arquiinimiga da causa.

Órfãos dos governos, mas assessorados por parlamentares de várias regiões do país, pela Igreja Católica e por ONGs, os índios querem agora colocar um representante no Congresso nas eleições deste ano. 

Para isso, organizaram uma estratégia aparentemente infalível: concentraram os esforços em Roraima - onde a presença indígena na sociedade, representando 11% dos 490 mil habitantes, é a mais ampla do País - para eleger um deputado federal e outro estadual.

Leia mais: Sem representação no Congresso, movimento LGBT se enfraquece.

Pela primeira vez na história das eleições no Estado, caciques (lá chamados tuxauas) decidiram, em inédita assembleia realizada há poucos dias, unificar as nove etnias - macuxi, wapixana, taurepang, ingarikó, wai-wai, yanomami, patamona, saparé e ye´kunan - para conquistar uma cadeira na Câmara.

A vaga está aberta desde a eleição do único índio que até hoje ocupou um assento no Parlamento, o ex-cacique xavante Mário Juruna que, embora tenha sua história no Mato Grosso, foi eleito pela população branca do Rio de Janeiro e teve passagem meteórica e polêmica pela Casa entre 1982 e 1986.

Pela decisão do conselho dos tuxauas de Roraima, que jamais é contestada, índio agora votará em índio. Os “caciques” tradicionais da política regional, como o senador Romero Jucá (PMDB), terão de buscar votos entre os brancos.

Os nomes escolhidos foram dois dirigentes do Conselho Indigenista de Roraima (CIR), Mário Nicácio Wapixana, do PC do B, coordenador do órgão, e Aldenir Cadete de Lima, o Aldenir Wapixana, do PT, que sairão em dobradinha, respectivamente, para Assembleia e Câmara.

Força
O próximo passo é buscar uma coligação para alcançar com segurança o quociente eleitoral, embora matematicamente possam ser eleitos mesmo saindo apenas pelos partidos aos quais estão filiados.

Com população de 55 mil pessoas e cerca de 30 mil votos, os índios representam cerca de 12% do eleitorado de Roraima e, desde que esse universo não seja dividido com candidatos brancos - como ocorreu historicamente -, conquistariam com folga uma cadeira na Câmara e, no mínimo, duas no Estado. Numa coligação, seis mil votos elegeriam um federal.

Uma espécie de “República” indígena, Roraima é o Estado do Brasil com a mais forte presença do índio na fisionomia social. Suas 32 reservas (ou Terras Indígenas) representam mais de 46% da superfície territorial, ou algo em torno de 10 milhões de hectares, onde vivem 413 comunidades. Os índios estão presentes em todos os setores da vida roraimense, mas o destaque é na economia: donos de 600 mil cabeças de bovinos - criados na Terra Indígena Raposa Serra do Sol, uma área contínua de 1, 7 milhão de hectares homologada em 2008 - são responsáveis pelo fornecimento de 60% da carne consumida em Roraima.

Mais de 600 índios são formados pela Universidade Federal de Roraima em áreas como administração, agronomia, medicina, direito, sociologia e, entre outras, filosofia. O candidato a deputado estadual, Mário Nicácio, por exemplo, é formado em administração de empresas (o foco é a área indígena) e habilitação em sistemas de informação.

Aldenir tem o ensino médio, mas se especializou em comunicação e, nas questões indígenas, atua como fotógrafo, alimentando redes sociais e sites voltados à causa indígena. Alimenta o site do CIR, tem página no Facebook e transita com desenvoltura pelas “infovias” da internet.

Os índios de Roraima estão entre os mais aculturados do mundo, são politizados (as aldeias terão urnas biométricas este ano) e convivem com a população branca sem abrir mão dos costumes e tradições. Os dois candidatos representam a nova geração surgida depois de uma luta de 34 anos retomada das terras da Raposa Serra do Sol, que estava nas mãos dos arrozeiros.

A eleição de um representante no Congresso tem dois objetivos: reforçar as conquistas em Roraima, resistindo às sucessivas tentativas de exploração às enormes riquezas minerais que repousam no subsolo das áreas indígenas do estado (a maior e mais valiosa província mineral do planeta) e articular um arco de alianças para se contrapor nacionalmente à força de ruralistas, que vem pressionando para tentar restringir os direitos indígenas já consolidados.

Tensão
“Vamos lutar por um estatuto, pela demarcação de terras de nossos parentes, o fim da mineração em território indígena, políticas públicas e a rejeição da PEC 215”, diz Aldenir Wapixana. Este último item se refere à proposta de emenda que daria também ao Congresso - e não só ao executivo - poder para decidir sobre demarcações.

A aprovação da PEC 215 seria, segundo Aldenir, um retrocesso para a minoria das minorias, já que ruralistas e evangélicos, frente que também confronta o interesse indigenista, têm juntas mais de 200 parlamentares.

O secretário executivo do Conselho Indigenista Missionário (CIMI), Cléber César Buzatto, diz que a eleição de apenas um deputado não muda a correlação de forças, mas daria uma voz autêntica e representativa a uma minoria, num parlamento francamente conservador e radicalmente contra os interesses indígenas.

Ele cita os casos de Mato Grosso do Sul e do Rio Grande do Sul, onde os ruralistas, liderados pelo presidente da Frente Parlamentar Agropecuária, Luiz Carlos Heinze (PP-RS), sem voz autêntica que os conteste no Congresso, estão formando milícias armadas para impedir as demarcações. Buzatto diz que em função da apologia ao conflito, pregada abertamente por Heinz, inclusive num vídeo que circulou na internet, índios kaingang e fazendeiros estão à beira de um conflito sangrento no Sul do país.

“A eleição de um índio ajudaria a reduzir o desequilíbrio no Congresso, colocando um contraponto aos ruralistas que querem inviabilizar as demarcações”, diz o secretário geral do CIMI.

Negros e mulheres
Entre as minorias, a mulher é a que tem mais espaço no Congresso, embora o índice seja reduzidíssimo quando comparado com a densidade dos gêneros entre a população. Elas representam mais de 51% dos brasileiros, mas são só 10% no Senado (81 senadores) e 8% na Câmara, onde ocupam 46 das 513 cadeiras. O contraditório é que a lei eleitoral obriga os partidos a destinar pelo menos 30% das vagas a candidatas mulher, o que acaba se revelando uma medida apenas formal.

Ainda assim, outras minorias, como negros, querem o mesmo tipo de proteção para melhorar a representação no Parlamento. “O Brasil faz a separação de raças na composição do Parlamento”, diz Alexandre Braga, responsável pelo setor de comunicação da União dos Negros do Brasil (Unegro), entidade que luta pela cota de 30% de vagas nos partidos como forma de melhorar a representação.

No Congresso, os parlamentares negros ou pardos também são poucos: dois no Senado e 43 na Câmara, um deles, Domingos Dutra (SD-MA), quilombola. Braga acha que as políticas públicas de valorização colocaram os negros atualmente em raro momento de afirmação.

Ele prevê que este ano haverá um pequeno aumento na bancada, mas acredita que o cenário estará bem melhor na próxima eleição, que deverá ser realizada depois de uma reforma política que garantirá disputa em melhores condições de igualdade às minorias.

Entre as demais minorias, os sem-terra têm três congressistas, os deficientes 15 (um deles no Senado) e os homossexuais apenas um assumidamente, no caso, o deputado Jean Wyllys.

Por Vasconcelos Quadros - iG São Paulo

Link:  http://ultimosegundo.ig.com.br/politica/2014-05-26/comunidades-indigenas-fazem-pacto-para-eleger-deputado.html

sábado, 17 de maio de 2014

A diversidade conjugada na Teia


Itaércio Porpino - Repórter.

Um evento de articulação política e também artístico. Porém, ninguém espere por shows com atrações midiáticas. Diferente das outras edições, a Teia Nacional da Diversidade 2014 – 5º Encontro Nacional dos Pontos de Cultura, que será realizado em Natal entre os dias 19 e 24 deste mês, terá como protagonistas os próprios Pontos de Cultura.      

Teia Nacional
Evento de alcance nacional promove a multiplicidade cultural através da reunião de 3 mil Pontos de Cultura de todo o BrasilEvento de alcance nacional promove a multiplicidade cultural através da reunião de 3 mil Pontos de Cultura de todo o Brasil


“Houve shows de artistas nacionais nos encontros anteriores [2006, em São Paulo; 2007, em Belo Horizonte; 2008, em Brasília e 2010, em Fortaleza],  mas aqui optamos por fazer diferente, pois além dos artistas ficarem com os cachês mais altos, eles ainda atraem os olhares da maior parte do público. E a ideia não é essa. Queremos que as atenções se voltem para os trabalhos desenvolvidos pelos Pontos de Cultura”, diz a jornalista Mary Land Brito, coordenadora executiva nacional do evento.

Segundo Mary Land, a programação artística foi montada a partir da seleção de projetos inscritos em dois editais - um nacional, contemplando somente Pontos de Cultura, e um estadual, aberto aos artistas do Rio Grande do Norte. “Como o evento é aqui,  nada mais justo do que dar aos nossos artistas a oportunidade de mostrar sua arte a quem vem de fora”, disse ela.

Foram inscritos 400 projetos de apresentações artísticas de todo o Brasil e selecionados 68. Um dos critérios levados em consideração foi a diversidade de expressões artísticas e geográficas.     

“Vamos ter indígenas, ciganos, povos de terreiros, ciranda, maracatu, coco, teatro, circo, música, filmes, intervenção urbana, performance, feira de economia solidária, além da parte de conteúdo - seminários, oficinas e debates. O nome Teia da Diversidade não é por acaso”, diz a coordenadora executiva nacional do evento.

Principais palcos
A maior parte das atividades será realizada na UFRN (próximo ao anfiteatro, em diversas tendas); mas também haverá programação no IFRN Cidade Alta, Espaço Ruy Pereira/Beco do Zé Reeira, Casa da Ribeira, Largo da praça Augusto Severo, Sesc Cidade Alta e  Teatro de Cultura Popular (TCP).

Feira Economia Solidária
A Feira de Economia Solidária e Criativa funcionará durante todos os dias da Teia (19 a 24/05), no anfiteatro da UFRN, em uma estrutura similar a da Cientec, das 9h às 16h. Trinta pontos de cultura, de diferentes partes do Brasil, vão estar expondo e comercializando peças artesanais no local.

Palco da Ribeira
O palco armado no largo da praça Augusto Severo (em frente ao TAM) vai receber atrações nos dias 21 e 24, começando a partir das 19h. Na primeira noite, o público vai poder assistir Brincadeira de Reis do Mestre Dedé Veríssimo (RN), o Maracatu Estrela de Igarassú (PE), Pau e Lata (RN), Tambores do Tocantins (TO), Rosa de Pedra (RN) e Verônica Decide Morrer (CE). Na segunda noite, sobem ao palco o grupo Jongo Kianda (SP), Cacuriá de Dona Teté (MA), Carimbó do Marajó (PA), Sirilo da Fusão (RS), DJ Tudo (SP), DuSouto (RN) e Caio Padilha (RN).

Palco Casa da Ribeira
No teatro da Rua Frei Miguelinho, vai ter programação nos dias 22, 23 e 24. Quinta, às 16h, Heloísa Helena (SC) sobe ao palco  com o espetáculo “Poses para (não) esquecer, e, às 20h, o artista Abdias do Nascimento (RJ) apresenta “De pai para filho”. Na sexta, às 16h e 20h, se apresentam mais dois grupos: Do Corpo à Raiz (SP) e a Cia Gira Dança (RN). O último dia (24), sobem ao palco o Teatro Experimental de Alta Floresta, com o espetáculo “Santa Joana dos Matadouros” (16h) e o Grupo Sonhus Teatro Ritual, com o espetáculo “Todo Serto” (20h). 

Sesc Centro
A Cia Balé Baião de Dança Contemporânea (CE) apresenta, no dia 23, às 18h, o espetáculo  “Invenção do Baião Teimoso”.  Logo depois, às 19h, vem o grupo Fragmentos (SE) com a montagem “Loucurarte”. No dia 24, às 16h, o grupo Mapati (DF) apresenta “Os Saltimbancos Músicos de Bremem” e, às 19h, tem o espetáculo “Contos, Cantos e Encantos Tapajônicos”, do Grupo de Teatro Olho D’água (PA).

Cortejo Cultura Viva 10 Anos
O cortejo sairá da Av. Rio Branco (IFRN Cidade Alta), às 16h do dia 21, com destino ao Largo Dom Bosco, na Ribeira (em frente ao Teatro Alberto Maranhão).

Lançamentos de livros e doação de materiais de leitura 
Às 16h do dia 22 de maio, no pátio do IFRN Cidade Alta, haverá distribuição de revistas da Fundação Biblioteca Nacional (FBN) e, às 18h, lançamento de livros do Instituto Brasileiro de Museus (Ibram). No dia 23, no mesmo local, haverá lançamento de livros indígenas (16h), seguido de apresentação da Cia Teatral Arte Viva (17h) e lançamento de livros do Ibram.  

No encalço do Jaraguá  
Na Teia da Diversidade 2014, a figura folclórica do Jaraguá – que inspirou a logomarca do evento - vai guiar o público pelo encontro nacional dos Pontos de Cultura e das redes da diversidade que integram o Programa Cultura Viva. O Jaraguá faz parte da tradição cultural da região Nordeste do Brasil. É um personagem fantástico que representa um fantasma de cavalo. No RN, ele integra o Auto Natalino dentro do Boi de Reis; em Pernambuco, aparece no Carnaval; no Cariri, sertão do Ceará, é uma figura do Reizado, assim como no Piauí e em outros estados nordestinos. 

A Teia, ponto a ponto
Espalhados por todas as regiões do Brasil, há atualmente algo em torno de 3 mil pontos de cultura, e a Teia Nacional da Diversidade é a  oportunidade que eles têm de  trocar experiências e discutir novas propostas para fortalecer o protagonismo cultural no País.

A transformação do programa do Governo Federal Cultura Viva em lei e a ampliação dos pontos de cultura no Rio Grande do Norte são alguns temas importantes que serão discutidos, segundo o fotógrafo Teotônio Roque,  coordenador da Comissão Nacional dos Pontos de Cultura e articulador local da Teia.

Ele explica que criação de pontos de cultura era um processo que se dava por meio de edital direto com o Ministério da Cultura, mas que atualmente está sendo descentralizado através das Redes Estaduais e Municipais de Pontos de Cultura. “A rede do RN conta com 53 pontos, um dos menores números do Brasil, diz Roque.

Só podem virar ponto de cultura entidades sem fins lucrativos que já desenvolvam alguma atividade cultural. “O ponto de cultura é para potencializar o que já existe”, diz Teotônio Roque. 

A Teia Nacional da Diversidade – 5º Encontro Nacional dos Pontos de Cultura e das redes da diversidade que integram o Programa Cultura Viva é uma promoção da Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC) e da Comissão Nacional de Pontos de Cultura (CNPdC). A programação completa está disponível no site www.culturadigital.br/teiadadiversidade

sábado, 10 de maio de 2014

TEIA NACIONAL DA DIVERSIDADE 2014 APRESENTARÁ A REDE CULTURA AFRO-BRASILEIRA.

Teia Nacional da Diversidade 2014 apresentará a Rede Cultura Afro-Brasileira

Teia da Diversidade, órgão que reúne todos os pontos de cultura do Cultura Viva espalhados pelo Brasil, fará o lançamento Rede Cultura Viva Afro-Brasileira, em seu quinto festival nacional, a ocorrer em Natal/RN, entre os dias 19 e 24 de maio.
A nova rede uma iniciativa da Fundação Cultural Palmares, instituição vinculada ao Ministério da Cultura (MinC), e da Secretaria da Cidadania e da Diversidade Cultural do MinC (SCDC/MinC). 
O objetivo da Rede Cultura Viva Afro-brasileira é unir os Pontos de Cultura Afro para fortalecer as atividades de promoção das manifestações artístico-culturais brasileiras.

A Teia é o encontro dos Pontos de Cultura do Cultura Viva e das representações da Diversidade que integram o Brasil Plural. Em sintonia com as estratégias e diretrizes gerais do Plano Nacional de Cultura, a Teia Nacional da Diversidade 2014 inaugurará um espaço para encontro, reconhecimento, convivência, reflexão, formação e divulgação de temas prioritários de grupos, coletivos, comunidades, Pontos de Cultura e iniciativas que integram os Programas Cultura Viva e Brasil Plural.
Outras informações, fotos e vídeos podem ser vistos no site da Teia.

quinta-feira, 8 de maio de 2014

Rede Cultura Viva Afro-brasileira será lançada na TEIA da Diversidade.

Foto: Nando Magalhães
A rede é uma iniciativa da Fundação Cultural Palmares (FCP– MinC) e da SCDC-MinC. O lançamento está previsto para abertura do Fórum de Cultura Negra que, integra as atividades da Teia da Diversidade 2014 em Natal/RN
Foto: Nando Magalhães – Fundação Cultural Palmares/MinC
 Unir os Pontos de Cultura Afro para fortalecer as atividades de promoção das manifestações artísticoculturais negras brasileiras. É o objetivo da Rede Cultura Viva Afro-brasileira, desenvolvida numa parceria entre a Fundação Palmares e a Secretaria da Cidadania e Diversidade Cultural do Ministério da Cultura (SCDC/MinC). O lançamento da iniciativa acontece no dia 21 de maio, na abertura das atividades do Fórum de Cultura Negra, que integra a Teia Cultural da Diversidade 2014, realizada entre19 e 24 de maio, em Natal/RN.
Culturas Negras em debate – Fórum de Cultura Negra vai promover o intercâmbio cultural entre os grupos e lideranças das comunidades de matriz africana e da juventude negra. A programação do encontro será um subsídio para a criação da Rede Cultura Viva Afro-brasileira, que pretende também facilitar as articulações entre os cerca de 500 Pontos de Cultura de temática negra espalhados pelo país.
De acordo com Lindivaldo Júnior, diretor do Departamento de Fomento e Promoção da Cultura Afro-Brasileira (DEP/FCP – MinC), a ação vai promover uma avaliação do Programa Cultura Viva, a partir da ótica dos agentes culturais negros brasileiros. “Queremos identificar novas alternativas para que a cultura negra ganhe maior visibilidade e, por consequência, a criação de políticas públicas”, disse.
Nos quatro dias de atividades no Fórum, líderes das comunidades religiosas de matriz africana, quilombolas, artistas e produtores culturais negros participam de uma série de debates sobre as culturas negras brasileiras, discutindo os “Avanços e Perspectivas na Ótica das Comunidades Tradicionais de Matriz Africana e Quilombolas”bem como rodas de conversa que irão abordar a temática da cultura negra.
Durante o evento, acontece ainda a 4º edição do Projeto Escambo Cultural, que vai reunir jovens de todo o Brasil para um debate sobre juventude negra e protagonismo cultural.
Para participar, basta realizar a inscrição no siteculturadigital.br/teiadadiversidade/inscricoes/.

quarta-feira, 7 de maio de 2014

Continuam abertas as inscrições para a 10ª Edição do Concurso de Roteiros Rucker Vieira.


As inscrições podem ser realizadas até o dia 30 de maio de 2014.

Estão abertas as inscrições para a décima edição do Concurso de Roteiros Rucker Vieira. Este ano, o eixo temático proposto é Africantos: histórias e memórias do povo afro-brasileiro, de modo a estimular produções audiovisuais que discutam a importância da cultura negra na formação da sociedade brasileira. 
Serão selecionados dois projetos de roteiro, para a realização de dois documentários de 26 minutos cada, com prêmio de R$ 80 mil brutos, cada. Os selecionados terão um ano para executar o projeto, que será exibido pela TV Brasil. O concurso conta com a parceria EBC/ TV Brasil.
Silvana Meireles, diretora de Memória, Educação, Cultura e Arte (Meca), da Fundação Joaquim Nabuco, afirma que o Rucker é um concurso que “chama a sociedade brasileira para trabalhar e produzir um tema como a cultura afro-brasileira e permite que esse material seja veiculado nas TVs e nas escolas, onde há uma defasagem de ensino na área. É um edital que vem se consolidando como prêmio de grande importância para a realização audiovisual com um importante teor pedagógico”.
O Rucker Vieira é uma iniciativa da Massangana Multimídia Produções/ Diretoria de Memória, Educação, Cultura e Artes (Meca), da Fundaj , que seleciona e fomenta anualmente projetos para a realização de documentários. 
Ao longo de dez anos de existência, contemplou 18 filmes, que tratam de diversos temas, entre os quais a questão ambiental, aspectos históricos e momentos da cinematografia brasileira.
Em 2012, o tema do concurso foi “Nordestes emergentes”. Foram 71 projetos inscritos, dos quais 45 da região Nordeste, 21 do Sudeste, três do Sul, um do Norte e um do Centro Oeste. Foram selecionados os roteiros de Aracati, Julia de Simone (RJ); Canavieiros, Andréa de Arruda Ferraz (PE); e O Touro, de Larissa Figueiredo (DF).
DVD Coleção Rucker – Vol. 1.
A Massangana Multimídia Produções lançou o DVD Coleção Rucker – Vol. 1, com os documentários finalizados até a quinta edição. São nove curtas-metragens: Recife 3×4, de Janaína Freire; Gangarras do Bandeira, de Lulla Clemente e Cátia Oliveira; Quando a Maré Encher, de Oscar Malta; Árvore Sagrada, de Cléa Presbítero; O Artesão dos Sonhos, de Petris Pires e Paulo Hermida; Verde Terra Prometida, de Cláudia Kahwage; Vigias, de Marcelo Lordello; Janela Molhada, de Marcos Enrique Lopes; e As Aventuras de Paulo Bruscky, de Gabriel Mascaro. O segundo volume está em fase de finalização e será integrado pelos seis documentários produzidos na sexta, sétima e oitava edições.

Quem foi Rucker Vieira (1931-2001) 
Rucker Vieira atuou como diretor de fotografia nas décadas de 1960-70 e foi um importante expoente da cinematografia do Brasil. Trabalhou em Aruanda (1960), filme dirigido pelo paraibano Linduarte Noronha, que inaugurou o cine-documentário brasileiro. O fotógrafo apresentava uma proposta inovadora, com o uso de luz crua, sem rebatedores ou refletores. 

Foi um dos principais responsáveis pela estética do Cinema Novo e trabalhou diretamente com Fernando Spencer e Amin Stepple. De acordo com o professor e pesquisador Alexandre Figueirôa, Rucker “era um documentarista intuitivo, sabia flagrar o detalhe correto. Mesmo filmando com equipamento precário, ele encontrava soluções para suprir as deficiências e mostrava a pobreza, a miséria e a aridez do Nordeste com uma câmera na mão e uma ideia na cabeça, mais tarde retomadas no Cinema Novo”. 

Com esta 10ª Edição, voltada para a temática Africantos: Memórias e costumes do povo Afro-Brasileiro, a Fundaj comemora os 10 anos de atividades do Concurso de Roteiros Rucker Vieira, sempre contando com a ampla aceitação e participação dos produtores audiovisuais das diversas regiões do Brasil.
Além da premiação oferecida a cada edição, o certame tem como seus pontos altos a parceria da TV Brasil, que assegura a exibição dos documentários vencedores, e a produção do DVD Concurso de Roteiros Rucker Vieira – Volume 1, que reuniu nove  produtos audiovisuais contemplados no período de 2003 a 2008. O volume 2, já está em fase de edição.
Com conteúdos atuais e imagens marcantes, de “encher os olhos”, foram várias as temáticas abordadas anteriormente: Cinema, Meio Ambiente, Questões Sociais e outras mais.
Da janela que se abre e mostra momentos mágicos da história do nosso cinema, seguido do olhar aguçado da câmera de um cineasta esculpindo sonhos, até as aventuras e deslumbres de um bem-humorado artista plástico; do rio recifense, o Capibaribe, passando pelo sustentável fruto da árvore sagrada, à Amazônia; de aspectos camuflados do racismo, passando pelo trajeto vertical e horizontal da vida de uma prostituta, aos olhares atentos, sentimentos e tensões diárias dos vigias de prédios, e outros. Cenas imperdíveis, de um projeto que deu certo em sua trajetória, para serem vistas com o “coração” e ouvidas com a “razão”.
O Rucker Vieira é isto: Uma viagem documental que desnuda, a cada edição, as várias faces do Brasil. Uma inegável contribuição como uma ferramenta a mais no processo de educação no nosso país. 10 Anos: Que soem os tambores e rodem-se as imagens, cena a cena. Vale à pena festejar o sucesso!
Informações:
Massangana Multimídia Produções

Diretoria de Memória, Educação Cultura e Arte
Fundação Joaquim Nabuco
Rua Henrique Dias, 609 – Derby – Recife – PE.
Telefones: 81 – 3073.6710/3073.6729
E-mail: ruckervieira.fundaj@gmail.com

terça-feira, 6 de maio de 2014

União Europeia quer ampliar políticas culturais com o Brasil.

05.05.14

Relatório da Comissão Europeia debatido em conferência internacional mapeou os principais instrumentos de política cultural do Brasil. 

O objetivo foi identificar potencial de cooperação entre a União Europeia e os agentes públicos e privados brasileiros. Os resultados da pesquisa foram debatidos durante a conferência internacional "Cultura nas Relações Exteriores da União Europeia", realizada em Bruxelas, cidade-sede do Parlamento Europeu, entre os dias 7 e 8 de abril.


Elaborado ao longo do segundo semestre de 2013, por meio de entrevistas e levantamento de dados, o relatório recomenda uma série diretrizes para fomentar a cultura como estratégia de desenvolvimento econômico e social entre o Brasil e os 28 Estados-membros que compõem a União Europeia. Além de mapear as ações já existentes entre os países, sugere medidas para aumentar a relação entre as indústrias culturais e criativas brasileiras e europeias.
O relatório propõe, por exemplo, o estabelecimento de convênios entre universidades para desenvolver projetos em política cultural, gestão cultural, preservação do património e planejamento urbano. Também estimula a  cooperação direta entre cidades e regiões europeias e brasileiras, além de ações a serem realizadas pelas representações diplomáticas e instituições europeias que atuam no Brasil, com foco nos jovens.
Protagonismo brasileiro
Ao fazer um inventário das principais políticas e instituições que fomentam a cultura no Brasil, o relatório foca nas ações do Ministerio da Cultura e suas vinculadas, como o Iphan (Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional), a Ancine (Agência Nacional do Cinema) e a Funarte (Fundação Nacional das Artes). Menciona o esforço do governo brasileiro, sob a liderança do MinC, para projetar a cultura como estratégia de inserção internacional do país, refletindo a "importância que o país agora atribui a este domínio". O relatório se refere especificamente a aprovação do Plano Nacional de Cultura (PNC), que prevê aumentar as atividades de difusão cultural e intercâmbios internacionais em 70%.
Para o secretário da economia criativa, Marcos André Carvalho, que foi a principal autoridade do MinC entrevistada para o relatório, são inúmeras as possibilidades de expansão das relações culturais entre o Brasil e a União Europeia.
Ainda de acordo com o relatório, uma série de fatores têm acelerado a decisão do governo em preparar um nova estratégia de internacionalização da cultura, como o aumento do interesse ao redor do mundo, especialmente após a definição do Brasil como sede da Copa e das Olimpíadas, "que obriga as autoridades a decidir sobre a marca e a imagem do país". Outro fator, explica o estudo, tem a ver com o protagonismo político e econômico, especialmente no contexto de configuração dos BRICS (Brasil, Rússia, Índia, China e África do Sul).    
Além de Brasil, a Comissão Europeia publicou estudos sobre cultura e relações internacionais com outros 26 países. A íntegra dos relatórios do Brasil e demais países estão disponíveis somente em inglês por meio do endereço:http://cultureinexternalrelations.eu/main-outcomes/

Quando a mídia condena-Morre uma vítima de um dos mais graves erros da imprensa brasileira.

Foto - Icushiro Shimada
Vítima, pela segunda vez, de infarto, Icushiro Shimada morreu no último mês. 

Dono da Escola Base, localizada em São Paulo, ele e outras seis pessoas, incluindo sua mulher, Maria Aparecida Shimada, foram acusadas de pedofilia, caso que ganhou espaço em jornais, rádios e televisões do país inteiro. 

Um mês depois, as investigações mostraram que os envolvidos eram inocentes e que tudo não se passava de uma série de erros.

Neste ano, o Caso Escola Base completou 20 anos. À época, os seis acusados de abuso sexual às crianças durante o horário de aula foram ameaçados e tiveram suas casas depredadas. 



A escola também foi destruída. 

O delegado que cuidava do caso, mesmo sem provas, chegou a determinar a prisão dos envolvidos.

A imprensa cobriu o caso durante dias e embarcou no erro. De acordo com o advogado Kalil Rocha Abdalla, que confirmou a morte de Icushiro, diversos processos por perdas e danos foram abertos. 

Alguns veículos de comunicação foram condenados, mas o dono da escola ainda aguardava o pagamento de algumas indenizações. Em 2007, Maria Aparecida morreu vítima de câncer. 


(Comunique-se)

segunda-feira, 5 de maio de 2014

Racismo - A incessante propaganda da inferioridade negra.

Concurso Miss Bahia 2013
Dois acontecimentos trouxeram a discussão do racismo com força nas últimas semanas.

Um deles ocorreu no programa do Faustão, quando o apresentador chamou uma das dançarinas da cantora Anitta, Arielle Macedo, de "aquela com o cabelo de vassoura de bruxa", pelo fato de ela usar um cabelo bem volumoso, armado e diferente do padrão liso ou cacheado que tanto se vê na TV.

Dançarina Arielle Macedo.
Outro acontecimento foi o arremesso de uma banana na direção do jogador de futebol brasileiro Daniel Alves num jogo na Espanha. O jogador em resposta pegou a banana do chão, comeu-a e chutou o escanteio.

Jogador Daniel Alves comendo uma banana arremessada no campo.
No caso da piada do "cabelo de vassoura de bruxa" dita pelo Faustão, seria muito legal se isso fosse algo restrito a ele, se apenas ele pensasse ou dissesse algo do tipo. Infelizmente não é. Diariamente presencio comentários semelhantes entre pessoas próximas a mim.

O mais comum desses comentários é o de que o cabelo liso é um "cabelo bom" e o crespo é um "cabelo ruim".

Esse tipo de comentário não é feito apenas por brancos em relação aos negros, mas também entre os próprios negros. Estão tão acostumados a ouvirem coisas assim que acabam aceitando-as como verdades e as reproduzindo.

Todos nós, por muito tempo fomos submetidos a uma grande propaganda da inferioridade negra.

Quase todos, incluindo muitos negros, compraram a idéia de que o cabelo do negro é feio, de que a pele do negro é feia, de que o negro em si é feio. Até as religiões de origem africana são sempre retratadas como se fossem coisas do diabo, maléficas e são retratadas em tom de gozação com muita frequência em programas humorísticos da TV, em novelas e filmes.

Se tornou algo tão enraizado, que chega a ser difícil se livrar desse pensamento. Às vezes até mesmo quem vive criticando o racismo se pega uma vez ou outra proferindo um comentário ou tomando uma atitude que poderia ser considerada racista.

Conheço pessoas que têm vários amigos, amigas e parentes negros, dos quais gosta e convive muito bem com eles. Mas quando não gostam de alguma pessoa de pele negra, mencionam termos como "aquela nega ruim". Mesmo quando gostam da pessoa mencionam frases como "Maria é negra bem preta, mas é gente boa".

É interessante notar que quando estamos com raiva de alguém, logo nos vem a cabeça todas as características que consideramos ruins naquela pessoa. Daí saem palavras como: burro (a), idiota, gordo, anão, vesgo, magrelo, pobre, cafona, feioso, dentre várias outras. Na situação que citei no parágrafo anterior, surge uma nova característica negativa da pessoa: o fato de ser negra. Ela não é apenas ruim, é uma "nega" ruim.

O racismo está enraizado de um jeito, que às vezes alguns nem notam que o que estão fazendo é racista. Agora mesmo, após o episódio do Daniel Alves comendo uma banana no campo, quando o Neymar lançou a hashtag "#SomosTodosMacacos", logo o apresentador de TV Luciano Huck correu para lançar uma camisa com o desenho de uma banana com as frases "#somostodosmacacos", "respeito" e "somos iguais" ao preço de R$ 69,00. Ele se esqueceu do simples detalhe de tirar uma única foto de algum(a) modelo negro(a) na campanha. Ele nem parou para pensar que todos os modelos do seu site "Use Huck" têm pele branca.

A montagem abaixo foi bastante compartilhada nas redes sociais.


A profissão de modelo, tão associada à beleza física tem poucos negros. O negro dificilmente é considerado bonito o suficiente para entrar na profissão, seja como modelo fotográfico ou de passarelas.

Em novembro do ano passado, a empresa Luminosidade Marketing & produções, responsável pela realização dos eventos São Paulo Fashion Week e Fashion Rio garantiu que ia incluir 10% de modelos negras em seu desfiles, após protestos e um acordo firmado com a Defensoria Pública do Rio de Janeiro. No São Paulo Fashion Week foi necessário um TAC (Termo de Ajustamento de Conduta) para obrigar os organizadores a ter 10% de modelos negras no desfile.

EBC - Defensoria Pública firma compromisso para participação de modelos negras no Fashion Rio

Até na TV o racismo acaba sendo escancarado, com novelas como "Amor à Vida" da TV Globo, que tinha praticamente todo o elenco de pele branca. No programa do Faustão é a mesma coisa, pois as bailarinas do seu programa são quase todas brancas.


Diante de tantas mensagens diárias nos dizendo desde pequenos que dificilmente o negro é bonito o suficiente para estar na TV, como pensar diferente? Como não pensar que a pele e os cabelos dos brancos são mais bonitos que os dos negros? Vendo isso a vida toda, como esperar que os negros tenha auto-estima o suficiente para não se verem feios e inferiores?

Para piorar mais ainda a situação, os séculos de escravidão negra que o Brasil viveu, fez com que mesmo depois da abolição da escravidão, os negros tivessem enormes dificuldades de sair da pobreza e da miséria, por causa do baixo acesso à educação de qualidade para os mais pobres, fazendo com que ainda hoje, a maioria dos pobres sejam negros.

Normalmente a população pobre é a que está mais sujeita a tudo de ruim: violência, doenças, desemprego, baixos salários, falta de um bom tratamento de saúde, falta de saneamento básico e também o aliciamento para o crime.

É algo bem lógico. Se a maioria dos criminosos são de origem pobre e a maioria dos pobres são negros, então com certeza a maioria dos criminosos serão negros, que se tornam bandidos não por serem negros e sim por sua condição social. Um branco nascido num lugar muito pobre, tem as mesmas chances de se tornar um bandido que qualquer negro de lá.
Me responda se você discriminaria
O Juiz Lalau ou o PC Farias
Não, você não faria isso não
Você aprendeu que o preto é ladrão
Muitos negros roubam, mas muitos são roubados
E cuidado com esse branco aí parado do seu lado
Porque se ele passa fome
Sabe como é:
Ele rouba e mata um homem
Seja você ou seja o Pelé
Você e o Pelé morreriam igual
Então que morra o preconceito e viva a união racial 
(Trecho da música "Racismo é burrice" de Gabriel o Pensador)
Essa lógica que eu demonstrei infelizmente é analisada por pouquíssimas pessoas. O que domina a sociedade é o seguinte pensamento: se a maioria dos criminosos são negros, então a maioria dos negros devem ser criminosos. Por isso devemos temê-los e nos afastar deles.

Com base em tudo isso se formou um estereótipo em torno do negro. O negro tem cabelo ruim, é feio e é bandido. E isso foi passando de pai para filho ao longo de muitas gerações...

Acha que é exagero?

Uma menina que conheço, quando tinha 4 ou 5 anos, disse-me que nos ensaios da quadrilha da escola, um menino não queria dançar com ela. Perguntei o porquê e ela me disse "ele disse que não ia dançar comigo porque eu sou preta". Quem será que ensinou esse menino tão novo a agir de forma racista?
E de pai pra filho o racismo passa
Em forma de piadas que teriam bem mais graça
Se não fossem o retrato da nossa ignorância
Transmitindo a discriminação desde a infância
E o que as crianças aprendem brincando
É nada mais nada menos do que a estupidez se propagando
(Trecho da música "Racismo é burrice" de Gabriel o Pensador)

Link: http://fabiano-amorim.blogspot.com.br/2014/05/propaganda-da-inferioridade.html